Eilat
Ao final do deserto do Neguev, no extremo sul de Israel, está um dos principais balneários do país. Mesclando a magia do deserto e os mistérios do mar, Eilat atrai turistas principalmente durante os meses do inverno no hemisfério norte, quando as baixas temperaturas, a neve e os ventos gelados levam especialmente os europeus a buscarem opções mais quentes.
Com cerca de 20 mil habitantes e uma temperatura média de 21º – no período que vai de dezembro a março, o inverno israelense – mais a sua proximidade com a Europa, Eilat se consagrou como um atraente centro de esportes aquáticos e também radicais, como safáris nos desertos, escaladas e caminhadas em trilhas, entre outros.
O que pouca gente sabe, no entanto, é que Eilat é também um dos melhores locais do mundo para a observação de pássaros. O Centro Internacional de Observação de Pássaros está instalado na região. Dizem os estudiosos do tema que aproximadamente um bilhão de aves atravessa a área entre a costa mediterrânea e as montanhas da Jordânia, transformando o extremo sul de Israel em um dos lugares de maior concentração de aves migratórias do mundo.
A história de Eilat, porém, não começou com sua fundação em 1950, pouco depois da independência de Israel, em 1948. A região onde se localiza está mencionada na Torá, como mostra o texto “…eles partiram de Ebroná e acamparam em Ezion-Geber…” (Números, 33:35). Assim a história dos judeus na região então denominada Ezion-Geber começou quando, há aproximadamente 3.300 anos, os Filhos de Israel vagueavam pelo Deserto do Sinai e chegaram a esse local. Foi durante o reinado de Salomão que a importância da área, como porto comercial estratégico, tornou-se conhecida. A Torá relata os fatos: “…e o rei Salomão fez uma frota de navios em Ezion-Geber, que está ao lado de Elot, na costa do Mar Vermelho, na terra de Edom” (Reis I, 9:26). A estratégica importância do local, porto de entrada para a África e para o Extremo Oriente, tornou-se imediatamente evidente para Salomão.
O porto de Ezion-Geber continuou a prosperar durante o período do Reino de Judá. O rei Jehoshaphat, por exemplo, preparou uma expedição para a legendária Ofir em busca de ouro: “… mas eles não foram; pois os navios estavam quebrados em Ezion-Geber” (Reis I,22:48). Restos desses navios foram encontrados pelo arqueólogo norte-americano Nelson Glueck, além de galpões nos quais eram armazenados os produtos que seriam carregados e as mercadorias entrantes. Tais descobertas foram fundamentais para confirmar a existência dessas antigas embarcações datadas do período do Reino de Judá.
Motivo de uma longa disputa de terras entre os Filhos de Israel e o povo de Edom, Eilat passou de um domínio para outro através dos séculos: depois dos edomitas vieram os nabateus; os egípcios a chamavam de Berenice. Depois foi a vez dos gregos e dos romanos – que a chamaram de Aila e, em seguida, dos cruzados, que fortificaram o porto e construíram uma fortaleza na Ilha dos Corais. Durante os quatro séculos em que os turcos ocuparam a região, a cidade perdeu sua identidade e até seu nome, caindo no esquecimento. Durante o período do Mandato Britânico, Eilat funcionava apenas como um posto policial chamado Umm Rash Rash. Seus únicos habitantes eram alguns poucos soldados jordanianos. Durante a Guerra da Independência, em março de 1949, forças israelenses encabeçaram a Operação Uvda, conquistando o povoado. Eles chegaram tão rapidamente e sem disparar tiro algum que somente no último momento perceberam a falta de uma bandeira de Israel para hastear, marcando a vitória. Assim, um soldado pegou uma folha de papel em branco e desenhou com uma caneta azul o símbolo da bandeira israelense – a Estrela de David. A foto desse momento histórico faz parte do acervo oficial do governo.
A cidade deixou então de se chamar Umm Rash Rash para se tornar Eilat. Sua localização estratégica, com saída para o Mar Vermelho, é fundamental para Israel, justificando sua conquista. Ao norte do Golfo de Ácaba está a Jordânia e o seu porto encontra-se a apenas cinco quilômetros a leste de Eilat. Na região mais oriental da costa está a Arábia Saudita, a aproximadamente sete quilômetros ao sul de Ácaba; e, na faixa mais ao sul, Eilat faz fronteira com o Egito. Ou seja, cercada de países árabes por todos os lados, Israel precisava controlar uma saída para o mar.
O desenvolvimento de Eilat propriamente dito começou em 1956, depois da Campanha do Sinai. Em abril de 1958 foi inaugurado o anel viário que uniu a cidade ao resto do país e começaram também os voos domésticos para várias cidades israelenses. O acesso fácil fez com que, segundo dados oficiais, cerca de 50 mil pessoas fossem até lá para ver algo jamais visto: o Mar Vermelho e a terra que pertencera a seus ancestrais. Enquanto o povoado prosperava, as minas de cobre em Timna foram reativadas e os primeiros hotéis de luxo foram construídos. A demanda cresceu tanto que atualmente até o Club Med possui um complexo no local.
Atrações Turísticas
Apesar de Eilat ser um centro para apreciadores de esportes aquáticos por ser considerada uma das mais espetaculares reservas submarinas, a cidade oferece também muitas opções para quem prefere manter seus pés em terra firme ou, pelo menos, “mais firme”. Aqueles que não gostam muito de mergulhar podem apreciar as belezas que há embaixo da água em um observatório que permite ver centenas de espécies como se estivessem dentro de um aquário gigantesco. Um dos quatro do mundo neste estilo, o observatório possibilita a vista de recifes e da vida submarina a uma profundidade de quase cinco metros. Uma das mais novas atrações de Eilat é a Baía dos Golfinhos, na qual é possível nadar e mergulhar com esses mamíferos.
A marca da passagem dos cruzados pela região de Eilat está visivelmente delineada na paisagem da Ilha dos Corais, na qual eles construíram uma fortaleza cujas muralhas ainda estão de pé. Situada a um quilômetro e meio de Taba, a Ilha dos Corais foi sempre chamada de Jezirat, ou Ilha dos Faraós, pelos árabes.
A aproximadamente trinta quilômetros ao Norte de Eilat está localizado o Parque Nacional do Vale de Timna, que inclui uma ampla área do Wadi Aravá (Vale do Aravá), que vai do Mar Morto ao Golfo de Eilat (também chamado de Golfo de Ácaba). Timna é, de fato, o mais antigo centro de mineração da história, o local da primeira exploração de minas de cobre do mundo. Informações sobre a mineração na região de Timna são encontradas na Bíblia: “… uma terra cujas pedras são ferro e da qual além de suas montanhas pode-se escavar metal” (Deuteronômio, 8:9).
As evidências sobre a atividade de mineração ainda podem ser vistas pela lava esverdeada distribuída pelo “Vale dos Ferreiros” no qual, segundo os cronistas bíblicos, mais de 80 mil mineiros trabalhavam.
Timna se tornou o mais importante centro de produção de cobre durante o reinado de Salomão, que foi o principal exportador deste minério durante a Antiguidade, tendo sido chamado de “O Grande Rei do Cobre”. Foi sob a florescente indústria da mineração de Timna que a riqueza deste grande monarca bíblico foi construída. O metal precioso para a fabricação dos objetos de culto para o Templo em Jerusalém foi extraído dessa área. Para melhorar o desempenho, Salomão teria trazido especialistas de Fenícia. Hiram, filho de uma viúva da tribo de Naftali, foi incumbido de fundir os utensílios para o Templo. Este episódio está narrado em Reis I, 7:13,14. O cobre era também trocado por ouro, especiarias, marfim e outras mercadorias que chegavam ao porto de Ezion-Geber, construído por Salomão para incrementar o desenvolvimento da região.
Suas teorias foram confirmadas com a descoberta de restos de uma fornalha, com canais de ventilação organizados na direção norte-sul, através dos quais sopram os ventos contínuos do Vale do Aravá, funcionando então como bolsões para circulação de ar. As minas antigas foram também exploradas pelos romanos e posteriormente pelos nabateus, sendo então abandonadas durante aproximadamente 1.800 anos, até que, em 1950, após a independência de Israel, o governo abriu as novas minas de Timna, retomando a exploração da área.
A região de Eilat oferece mais uma opção para os turistas que estão em busca de novas experiências. É o Parque da Vida Selvagem Hai-Bar. Localizado no Vale do Aravá, foi fundado em 1961 com o objetivo de tentar restaurar a fauna original da área. De todas as espécies mencionadas na Bíblia, doze já foram extintas. Alguns espécimes das que sobreviveram foram trazidos para a área, onde a presença de acácias típicas das savanas e pastos naturais possibilitou sua reprodução.
Eilat, como a maioria das cidades israelenses, pode ser considerada um símbolo vivo do renascimento do Estado de Israel na terra dos ancestrais do povo Judeu. Mantendo os vestígios de um passado glorioso marcado por monarcas ousados e criativos, a cidade tem-se desenvolvido continuamente, fazendo uso de todas as ferramentas da sociedade moderna. Mesclando o antigo com o novo, Eilat se consagra cada vez mais como um centro de lazer tanto para quem busca um reencontro com a sua história quanto para quem quer aproveitar as belezas de um cenário natural único, no qual o deserto e o mar se unem para oferecer um espetáculo singular na Terra Prometida.